Em
um mundo cada vez mais preocupado com questões ambientais, Fortaleza
rema contra a maré. Enquanto crescem a frota de veículos e o
congestionamento em ruas e avenidas, poucas são as iniciativas visando
reduzir a emissão de gases poluentes na metrópole, que desponta como a
quinta cidade mais populosa do País, conforme indicadores divulgados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano
passado.
O
certo é que a cidade não dispõe de mecanismo capaz de auferir os gases
poluentes emitidos por veículos automotivos e que são lançados na
atmosfera, embora a mobilidade urbana tenha voltado à cena, sobretudo
devido à proximidade da realização no País da Copa de 2014.
Se em
2002 a Capital tinha 402.387 veículos, hoje, a frota chega a 807.317,
segundo o último estudo do Departamento Estadual de Trânsito (Detran),
correspondente ao mês de junho passado.
Além disso, médicos
alertam sobre riscos para a saúde humana decorrentes da poluição
ambiental. Infecções respiratórias e alergias são as consequências mais
comuns, principalmente em crianças e pessoas idosas.
Sem controle
Mas,
para se ter um ideia da falta de controle da qualidade do ar que
respiramos, basta lembrar que uma das poucas ações nesse sentido, o
Programa de Combate à Fumaça Negra, desenvolvido pela Superintendência
Estadual do Meio Ambiente (Semace) desde 1990, dispõe atualmente de
apenas uma equipe para atender a Capital e o Interior do Estado. As três
estações manuais que faziam a medição da qualidade do ar em pontos
críticos de poluição de Fortaleza e uma em Maracanaú foram desativadas
em 2007.
Na Capital, elas funcionavam na Avenida Imperador, no
centro da cidade; na Av. Presidente Castello Branco (Leste-Oeste) e na
Av. Juscelino Kubitschek, no bairro Passaré.
A estação de
Maracanaú, era localizada no Conjunto Habitacional Acaracuzinho, próximo
ao Distrito Industrial, área de concentração de emissões de gases na
atmosfera.
Em 2010, a Semace anunciou licitação para aquisição de
equipamentos mais modernos para a implantação de novas 11 estações. Até
hoje, contudo, a medida não foi implementada.
Obsoleto
A
gerente de Análise e Monitoramente (Geamo) da Semace, Magda Kokay,
reconhece a necessidade de monitoramento da qualidade do ar na Capital,
mas explica que as estações foram desativadas porque os equipamentos
estavam obsoletos. Quanto à implantação das novas estações, adianta ser
esse um assunto que depende de recursos do governo do Estado.
Já
acerca do Programa de Combate à Fumaça Negra, considerou "que está a
todo vapor", mesmo dispondo de apenas uma equipe, composta por um
técnico e coordenador, quatro fiscais e uma viatura para fiscalizar todo
Estado. Informou que, diariamente, de terça a sexta-feira, é realizada
uma blitz. Esse trabalho acontece na Capital, na região metropolitana e
no Interior, e efetua o controle da emissão de fumaça negra pelos
veículos automotores do ciclo diesel, comentou.
Via de regra,
durante a inspeção, o veículo é parado com ajuda dos agentes municipais,
estaduais e federais de trânsito. A fiscalização é realizada medindo-se
a intensidade de cor da fumaça emitida pelo veículo através da Escala
de Ringelmann Reduzida. Um painel branco medindo aproximadamente 0,80m x
0,80m é colocado por trás do cano de escape do veículo que é acelerado
conforme orientação do técnico fiscal.
A leitura é realizada com a
Escala de Ringelmanna a uma distância de 30 metros da fonte de emissão.
Os veículos que apresentam densidade colorimétrica de 20 a 40% (Padrões
nº 1 e 2) são liberados para o tráfego depois de receberem, no
para-brisa, o adesivo com os dizeres "vistoriado".
Já os veículos
que apresentarem densidade colorimétrica maior ou igual a 60% (Padrão
nº 3) recebem auto de Infração e devem apresentar o veículo à Semace
devidamente regulado no prazo de 15 dias para nova vistoria. O
proprietário que atender a orientação da Superintendência no referido
prazo tem a multa reduzida em 50% do seu valor, após uma segunda medição
do índice de fumaça para averiguar se o veículo está regulado.
A
emissão de fumaça negra é o resultado de uma combustão incompleta e
está associada a problemas operacionais e de manutenção, podendo
acarretar doenças relacionadas ao aparelho respiratório e
cardiovascular, bem como alterações no clima terrestre.
Vistoria
Na
última terça-feira, a Semace realizou uma blitz na Avenida Godofredo
Maciel, próximo à rotatória do bairro do Mondubim. No horário de 9 às 11
horas da manhã, foram vistoriados 115 carros movidos a diesel. Segundo o
coordenador do Programa de Combate à Fumaça Negra, Francisco de
Oliveira, quatro proprietários de veículos foram autuados nesse dia.
A
multa varia de R$ 1.239,33 a R$ 4.957,33. "Eles costumam regularizar o
veículo até mesmo para conseguir a redução desse valor", lembrou.
Dentre
os fatores que provocam a combustão irregular, Francisco de Oliveira
destacou: bomba do motor do veículo violada, bico injetor desregulado ou
funcionando de forma inadequada, filtro do ar sujo e combustível
contaminado.
A Semace vistoriou 9.547 veículos movidos a diesel
no primeiro semestre deste ano, o que representa 80% do total de
veículos fiscalizados em 2011. Ao todo, foram realizadas 85 blitze no
Ceará até dia 22 de junho, dado do último levantamento. Do total de
veículos fiscalizados em 2012, 346 foram autuados por estarem com índice
de emissão de fumaça acima do permitido pela legislação vigente.
Engenheiro propõe mais rigor na fiscalização
A
implementação de mecanismos de controle de emissões dos escapamentos
dos veículos, através de blitze eficientes e constantes, e inspeção
veicular anual, a partir do terceiro ano de uso, são medidas para
reduzir a poluição do ar propostas por Ronaldo Stefanutti, professor do
Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade
Federal do Ceará (UFC).
O avanço tecnológico, esclareceu, reduziu
as emissões do monóxido de carbono por veículos automotores em 26,1
vezes da década de 80 até o ano 2000. "Diante deste quadro, sugere-se
reciclar os veículos mais antigos, pois os mesmos são grandes fontes de
poluição", admitiu.
Mas, levando em consideração questões
sociais, outra opção a ser adotada seria limitar o acesso dos veículos
mais velhos aos centros urbanos com tráfego intenso, que poderia
acompanhada por sistema eletrônico de identificação de placas.
"Medidas
como a adoção de catalizador veicular e injeção eletrônica, entre
outras tecnologias, colaboraram para a redução das emissões de gases",
disse, acrescentando que parte desses s avanços foram implementados
graças ao Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos
Automotores (Proconve), adotado pelo governo Federal.
A qualidade
do combustível é outro fator que deve pesar muito na redução das
emissões, principalmente do material particulado, com a adoção do
biodiesel e de diesel com padrão europeu, no caso, S50 (50 partículas
por milhão (ppm) de enxofre), com baixo teor de enxofre.
Temos
convivido, ao longo dos anos, com um nível cada vez maior de poluição
atmosférica. Observamos, ainda, um aumento expressivo das doenças
alérgicas, entre elas, a rinite alérgica e a asma, especialmente nas
cidades grandes. Vários trabalhos científicos relacionam a poluição do
ar às doenças respiratórias e os portadores destas doenças são unânimes
em relatar piora dos sintomas relacionados à maior exposição à poluição
atmosférica.
Os efeitos desta poluição são mais observados nas
épocas de menor umidade do ar, quando as emergências lotam com quadros
de doenças alérgicas, respiratórias e suas complicações. As maiores
vítimas são crianças e idosos, que sofrem com o comprometimento de sua
qualidade de vida.
Faz-se necessário políticas públicas que visem
reduzir a poluição atmosférica nas grandes cidades através de
tecnologias menos poluentes, melhor fiscalização das indústrias e
investimentos em habitação e transporte público que retirem as pessoas
de moradias insalubres e reduzam o número de veículos.
Multa
"Os proprietários autuados costumam regularizar o veículo até mesmo para conseguir a redução da multa"
Fonte: Diário do Nordeste