segunda-feira, 30 de julho de 2012
Qualidade do ar em Fortaleza não passa por monitoramento
Em um mundo cada vez mais preocupado com questões ambientais, Fortaleza rema contra a maré. Enquanto crescem a frota de veículos e o congestionamento em ruas e avenidas, poucas são as iniciativas visando reduzir a emissão de gases poluentes na metrópole, que desponta como a quinta cidade mais populosa do País, conforme indicadores divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano passado.
O certo é que a cidade não dispõe de mecanismo capaz de auferir os gases poluentes emitidos por veículos automotivos e que são lançados na atmosfera, embora a mobilidade urbana tenha voltado à cena, sobretudo devido à proximidade da realização no País da Copa de 2014.
Se em 2002 a Capital tinha 402.387 veículos, hoje, a frota chega a 807.317, segundo o último estudo do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), correspondente ao mês de junho passado.
Além disso, médicos alertam sobre riscos para a saúde humana decorrentes da poluição ambiental. Infecções respiratórias e alergias são as consequências mais comuns, principalmente em crianças e pessoas idosas.
Sem controle
Mas, para se ter um ideia da falta de controle da qualidade do ar que respiramos, basta lembrar que uma das poucas ações nesse sentido, o Programa de Combate à Fumaça Negra, desenvolvido pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) desde 1990, dispõe atualmente de apenas uma equipe para atender a Capital e o Interior do Estado. As três estações manuais que faziam a medição da qualidade do ar em pontos críticos de poluição de Fortaleza e uma em Maracanaú foram desativadas em 2007.
Na Capital, elas funcionavam na Avenida Imperador, no centro da cidade; na Av. Presidente Castello Branco (Leste-Oeste) e na Av. Juscelino Kubitschek, no bairro Passaré.
A estação de Maracanaú, era localizada no Conjunto Habitacional Acaracuzinho, próximo ao Distrito Industrial, área de concentração de emissões de gases na atmosfera.
Em 2010, a Semace anunciou licitação para aquisição de equipamentos mais modernos para a implantação de novas 11 estações. Até hoje, contudo, a medida não foi implementada.
Obsoleto
A gerente de Análise e Monitoramente (Geamo) da Semace, Magda Kokay, reconhece a necessidade de monitoramento da qualidade do ar na Capital, mas explica que as estações foram desativadas porque os equipamentos estavam obsoletos. Quanto à implantação das novas estações, adianta ser esse um assunto que depende de recursos do governo do Estado.
Já acerca do Programa de Combate à Fumaça Negra, considerou "que está a todo vapor", mesmo dispondo de apenas uma equipe, composta por um técnico e coordenador, quatro fiscais e uma viatura para fiscalizar todo Estado. Informou que, diariamente, de terça a sexta-feira, é realizada uma blitz. Esse trabalho acontece na Capital, na região metropolitana e no Interior, e efetua o controle da emissão de fumaça negra pelos veículos automotores do ciclo diesel, comentou.
Via de regra, durante a inspeção, o veículo é parado com ajuda dos agentes municipais, estaduais e federais de trânsito. A fiscalização é realizada medindo-se a intensidade de cor da fumaça emitida pelo veículo através da Escala de Ringelmann Reduzida. Um painel branco medindo aproximadamente 0,80m x 0,80m é colocado por trás do cano de escape do veículo que é acelerado conforme orientação do técnico fiscal.
A leitura é realizada com a Escala de Ringelmanna a uma distância de 30 metros da fonte de emissão. Os veículos que apresentam densidade colorimétrica de 20 a 40% (Padrões nº 1 e 2) são liberados para o tráfego depois de receberem, no para-brisa, o adesivo com os dizeres "vistoriado".
Já os veículos que apresentarem densidade colorimétrica maior ou igual a 60% (Padrão nº 3) recebem auto de Infração e devem apresentar o veículo à Semace devidamente regulado no prazo de 15 dias para nova vistoria. O proprietário que atender a orientação da Superintendência no referido prazo tem a multa reduzida em 50% do seu valor, após uma segunda medição do índice de fumaça para averiguar se o veículo está regulado.
A emissão de fumaça negra é o resultado de uma combustão incompleta e está associada a problemas operacionais e de manutenção, podendo acarretar doenças relacionadas ao aparelho respiratório e cardiovascular, bem como alterações no clima terrestre.
Vistoria
Na última terça-feira, a Semace realizou uma blitz na Avenida Godofredo Maciel, próximo à rotatória do bairro do Mondubim. No horário de 9 às 11 horas da manhã, foram vistoriados 115 carros movidos a diesel. Segundo o coordenador do Programa de Combate à Fumaça Negra, Francisco de Oliveira, quatro proprietários de veículos foram autuados nesse dia.
A multa varia de R$ 1.239,33 a R$ 4.957,33. "Eles costumam regularizar o veículo até mesmo para conseguir a redução desse valor", lembrou.
Dentre os fatores que provocam a combustão irregular, Francisco de Oliveira destacou: bomba do motor do veículo violada, bico injetor desregulado ou funcionando de forma inadequada, filtro do ar sujo e combustível contaminado.
A Semace vistoriou 9.547 veículos movidos a diesel no primeiro semestre deste ano, o que representa 80% do total de veículos fiscalizados em 2011. Ao todo, foram realizadas 85 blitze no Ceará até dia 22 de junho, dado do último levantamento. Do total de veículos fiscalizados em 2012, 346 foram autuados por estarem com índice de emissão de fumaça acima do permitido pela legislação vigente.
Engenheiro propõe mais rigor na fiscalização
A implementação de mecanismos de controle de emissões dos escapamentos dos veículos, através de blitze eficientes e constantes, e inspeção veicular anual, a partir do terceiro ano de uso, são medidas para reduzir a poluição do ar propostas por Ronaldo Stefanutti, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC).
O avanço tecnológico, esclareceu, reduziu as emissões do monóxido de carbono por veículos automotores em 26,1 vezes da década de 80 até o ano 2000. "Diante deste quadro, sugere-se reciclar os veículos mais antigos, pois os mesmos são grandes fontes de poluição", admitiu.
Mas, levando em consideração questões sociais, outra opção a ser adotada seria limitar o acesso dos veículos mais velhos aos centros urbanos com tráfego intenso, que poderia acompanhada por sistema eletrônico de identificação de placas.
"Medidas como a adoção de catalizador veicular e injeção eletrônica, entre outras tecnologias, colaboraram para a redução das emissões de gases", disse, acrescentando que parte desses s avanços foram implementados graças ao Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), adotado pelo governo Federal.
A qualidade do combustível é outro fator que deve pesar muito na redução das emissões, principalmente do material particulado, com a adoção do biodiesel e de diesel com padrão europeu, no caso, S50 (50 partículas por milhão (ppm) de enxofre), com baixo teor de enxofre.
Temos convivido, ao longo dos anos, com um nível cada vez maior de poluição atmosférica. Observamos, ainda, um aumento expressivo das doenças alérgicas, entre elas, a rinite alérgica e a asma, especialmente nas cidades grandes. Vários trabalhos científicos relacionam a poluição do ar às doenças respiratórias e os portadores destas doenças são unânimes em relatar piora dos sintomas relacionados à maior exposição à poluição atmosférica.
Os efeitos desta poluição são mais observados nas épocas de menor umidade do ar, quando as emergências lotam com quadros de doenças alérgicas, respiratórias e suas complicações. As maiores vítimas são crianças e idosos, que sofrem com o comprometimento de sua qualidade de vida.
Faz-se necessário políticas públicas que visem reduzir a poluição atmosférica nas grandes cidades através de tecnologias menos poluentes, melhor fiscalização das indústrias e investimentos em habitação e transporte público que retirem as pessoas de moradias insalubres e reduzam o número de veículos.
Multa
"Os proprietários autuados costumam regularizar o veículo até mesmo para conseguir a redução da multa"
Fonte: Diário do Nordeste
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