Com baixo volume hídrico e sem obras de melhorias, o reservatório já não atrai tantos visitantes.
Considerado uma das principais atrações turísticas deste município, o Açude Cedro está passando pela maior crise econômica da sua história. Essa é a opinião de comerciantes do local. Com pouco mais de 15% do seu volume hídrico, o açude não está mais atraindo visitantes. O reflexo da seca está afetando o caixa dos pequenos comércios instalados nas proximidades. A situação dos seis bares e restaurantes existentes no entorno do parque hídrico mantido pelo Dnocs é de crise. Eles pedem providências dos gestores públicos para revitalização do complexo histórico. Se a estiagem se agravar e o açude secar, como ocorreu em 1999, o comércio teme a falência.
Na opinião da proprietária do restaurante Peixada Recanto, Erica Moreira, a seca é um dos principais fatores do fraco movimento nesta época do ano. Todavia, o tradicional ponto comercial de sua família, situado ao lado da rampa de acesso às duas paredes do açude, não deixou de receber fregueses somente por causa da estiagem. Faltam iniciativas para tornar o ambiente mais agradável. Além da limpeza, a estrutura arquitetônica necessita reparos. A passarela, de onde se avista a Pedra da Galinha Choca, cartão postal da cidade, continua às escuras. Ninguém arrisca mais aguardar o pôr do sol. Com a escuridão, aumenta o risco de assaltos.
Os proprietários do Paraíso Bar também não estão satisfeitos com a situação. "Não bastasse essa seca braba, falta segurança por aqui. O bar da gente dá vista para a passarela da parede do açude. Vez por outra, a gente vê alguém sendo assaltado, em plena luz do dia. Geralmente, são menores, em grupo, e como não costuma aparecer nenhum policial, agem livremente", reclama o comerciante Lucas Freitas.
Ele lembra ser um tempo bem diferente da época em que um empresário de turismo, o tenente Adão Masera, costumava trazer dezenas de estrangeiros, em pleno meio da semana. Ele trabalhava com uma equipe. Ajudavam como guias turísticos. O comerciante diz que o município nunca disponibilizou nenhum.
O flanelinha Manoel Silva, mais conhecido como "Tisom", concorda com os comerciantes. Pelos cálculos dele, quando o açude está cheio, mais de dois mil turistas costumam aparecer nos fins de semana para tomar banho e apreciar a paisagem.
Ele faz as contas se baseando no número de ônibus estacionados na área dos antigos armazéns. Nos tempos bons, costumava ficar lotado. São mais de 30 coletivos, de diferentes cidades do Estado a cada fim de semana. Nas últimas semanas, têm aparecido no máximo quatro ou cinco. Ele também perde com a seca. A proporção na redução de automóveis é praticamente a mesma, superior aos 70%. Recebe menos gorjetas. Os turistas estão se tornando cada vez mais raros.
A professora Maria Lúcia Feijó é uma das poucas exceções. Ela resolveu trazer parentes de Natal (RN), para conhecerem as belezas do lugar. "A minha intenção era mostrar que no Ceará não tem só praia. Além do mais, este paraíso fica perto de Fortaleza, onde moro. O passeio só não perdeu o encanto porque a natureza abençoou Quixadá. Não bastasse o forte calor, a gente percebe a falta de cuidado. Em qualquer lugar da Europa, um recanto desses estaria muito bem cuidado. Mesmo com a seca, se preservado, mais turistas viriam aqui, mas desse jeito, realmente não dá", criticou.
A situação crítica está afetando até estabelecimentos situados a mais de dois quilômetros do Açude Cedro. A Peixada O Orlean é um deles. Conforme o proprietário, Orlean da Silva, há mais de 25 anos estabelecido à margem da rodovia de acesso ao Cedro, crise mais grave somente no período da cólera na cidade, no fim da década de 1980. Na avaliação dele, além da precariedade do ponto turístico, faltam políticas públicas. Todos os anos, os governantes aparecem com novas propostas, mas de concreto nada é feito, deixando cada vez menos atraente o turismo no primeiro açude construído no Brasil.
A secretária de Turismo do município, Camila França, reconhece as dificuldades. Se planejar ações no início de uma administração já é difícil, quanto mais no fim de uma gestão. Ela assumiu a Secretaria há pouco mais de três meses. No início do ano, o prefeito Rômulo Carneiro entrega o cargo ao sucessor, João Hudson Bezerra, o "João da Sapataria", como é mais conhecido. O futuro prefeito já tomou conhecimento da situação do Cedro e da obra de restauração dos dois armazéns históricos. "O serviço já deveria ter sido concluído, mas surgiram alguns problemas com a documentação apresentada à Caixa Econômica Federal, para liberação dos recursos. Agora, só no próximo ano", finalizou.
Fonte: diariodonordeste.com
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